Tenho a ligeira sensação que se os nossos sentidos falassem diriam coisas de fazer corar até as pedras da calçada.
Tenho a ligeira sensação que se os nossos sentidos falassem diriam coisas de fazer corar até as pedras da calçada.
Navegava pelo Facebook quando me deparei com as concorrentes a Miss Portugal/Luxemburg. Qual não é o meu espanto ao reconhecer uma das candidatas. Lembrei-me automaticamente dos tempos de infância, dela e dos irmãos. O irmão era da minha turma, era mais apaixonado pela bola que por qualquer outra coisa. Os olhos dele brilhavam e parecia que voava escada a baixo tal a sede de jogar quando a professora nos mandava sair para intervalo. Nunca conheci ninguém tão apaixonado por bola como ele.
Ela era um ano mais nova, empertigada e senhora do seu nariz com um sorriso alegre. Relembro-a como uma miúda de “pêlo na venta”, nunca deixava ninguém levar a melhor e uma das recordações enevoadas que tenho dela passam por uma luta que teve com outra rapariga no recreio da escola. Tantos puxões e madeixas de cabelo arrancadas naquele dia.
A irmã mais nova era a cara da chapada da irmã, contudo tinha uma calma e uma timidez únicas. Viviam os três com a avó e passavam por algumas necessidades.
Já não sabia nada deles há anos. Com a mudança para o ciclo perdi-lhes o destino. Diziam que tinham emigrado com a mãe. Continuo sem saber nada deles, e dela, pelo menos, parece que afinal sempre vingou na vida. Sempre teve o bichinho para isso. Não deveriam ser todas as histórias assim, com final feliz?
Olho aquelas mãos fortes ao longe vincadas a linhas salientes de sangue negro pulsante.
Retrocedo lembranças do seu desejo percorrendo avidamente cada trilho do meu corpo num descobrir de recantos e marés de mim.
Mantenho uma distância coerente. Não quero proximidades para lá do trivial.
Doem-me de fúria no tempo e ardem na pela agora vazia.
O semblante que se mostra gélido esvanece-se num sorriso indecifrável de quem não sabe seguir sem passado nem me deixa partir.
Um dia aprendo e mudo de rumo.