Respondia-lhe ele que as mulheres decentes também eram uma espécie extinta. Que já não há mulheres de palavra, verdadeiras, sinceras e de confiança que não traiam.
Passam-me mentalmente umas quantas pessoas assim pela cabeça. Ignoro as que já estão felizes e trago as restante á berlinda. Aquela se não tivesse uns quilinhos a mais, ou a outra se não fosse tão baixinha, ou aquela se tivesse um sorriso mais bonito e a outra fosse mais divertida, e tantas outras com tanto por dizer, se elas não fossem como são já se podiam enquadrar como mulheres decentes. E nisto percebo que poderia estar a falar no masculino que cairia no mesmo discurso.
Hoje em dia quase todos procuram qualidades interiores que combinem com o exterior como se isso fosse um requisito de qualidade de um qualquer produto numa prateleira de supermercado. Procura-se alguém que não espelhe os seus próprios defeitos sob pena de acordar todas as manhãs com alguém que se sabe de cor e se condena ao seu jeito.
Às vezes parece que não se quer amor nem cumplicidade, quer-se um bibelô para trazer ao lado e apresentar aos amigos. Porque os bibelôs vieram da fábrica para aquelas mãos, são perfeitos e não têm passado. Os bibelôs não pensam, não discutem nem têm opinião.
Estão ali, imaculados, perfeitos e inalcançáveis.
Seria tão mais fácil se todos fossemos bibelôs.