
Às vezes acho que os regressos são mais penosos que as partidas.
Habituo-me bem demais aos cantos recentemente descobertos, às caras novas e aos novos desconhecidos que se cruzam comigo quando caminho firme na estrada de um dia.
Vai-se e a vida contrai-se e tudo o que foi ou é fica serenamente em stand-by à espera do que será ao voltar.
Mas a vida, afinal, dá voltas e voltas e quebramos caindo de joelhos no chão, perante uma insana coincidência qual perseguição violenta do assassínio do nosso coração no retiro espacial que tomamos.
Muda-se de espaço, de tempo, de memória mas ele vai.
Vai silencioso para onde vamos. Cala-se e mira a presa á distância segura de não ser visto.
Os estragos estão feitos. O coração está despedaçado, a garganta trancada a nós firmes e os olhos secos de qualquer gota pendente.
É um espicaçar que prende e castiga e dá esperança enquanto bate e amordaça o sentimento.
Desta vez talvez quisesse regressar tanto quanto queria partir. Porque se aqui o espaço é pequeno demais para nós dois, lá era doloroso demais.
Resta a vontade de partir novamente para parte incerta desta vez, onde saiba que o coração fica seguro do que os olhos não alcançam mas o sentimento pressente.
Por agora assento na lembrança da pele morena, do sol quente beijando-me o corpo enquanto flutuava ao sabor do mar e dos pés enterrados na areia a cada passo apenas por caminhar. A vida é feita destes instantes e presença ou ausência de quem quer que seja nos pode atingir da mesma forma sem que o permitamos...
Um regresso é apenas um voltar e cabe-nos virar a página e escrever um novo encadear de palavras...