Surpreende-me, agarra-me, abraça-me e dança comigo em plena rua, em plena noite, em plena felicidade numa música que só nós parecemos ouvir.
Deixa-me cometer loucuras, só hoje.
Surpreende-me, agarra-me, abraça-me e dança comigo em plena rua, em plena noite, em plena felicidade numa música que só nós parecemos ouvir.
Deixa-me cometer loucuras, só hoje.
Há já muito tempo que não saia até de manhã, e soube-me bem uma noite assim, dançar, rir, descontrair e sorver o ambiente.
Quase que sentia falta daquele reboliço de estudantes, animados em conversas paralelas, num emaranhado de gente como só aquela parte da cidade sabe ficar nesta altura. Nem acredito que terminei o curso e já não faço parte daquilo.
Contudo, ao entranhar-me cada vez mais naquele ambiente, afinal não lhe sentirei assim tanto a falta. Passar pelas miúdas e miúdos que parecem ter acabado de sair das saias dos pais e já estão ali vestidos e a comportar-se como "gente grande" de copo na mão, mete-me confusão. Elas nos seus saltos altissímos, muito maquilhadas e dentro de pedaços de pano que deixam mais à mostra do que aquilo que tapam não é normal. Eu, de sapatilhas, calças de ganga e t-shirt fui mais vezes chamada de caloira ontem que muitas daquelas raparigas que lá estavam a começar a gozar o seu tempo de estudante disfarçadas de mulheres.
Como dizem "momentos que passam, saudades que ficam", mas só de algumas coisas.
Deixo o calor vencer e retiro o casaco que me recobre os ombros desnudos. Uma pele branca ausente de sol sobressai no escuro de contornos que me cerca.
Permito que a multidão que dança frenética neste espaço apertado me consuma.
A música entra no meu corpo como uma ignição de movimentos descoordenados que vou propagando. Um balanço de luz que incide alternadamente leva-me ao patamar seguinte na entrada de um mundo paralelo, um quase instante em que sonho acordada.
É noite dentro e vejo a chuva bater forte na grande janela de vidro em que ninguém parece reparar.
Aos poucos o álcool sorvido de um só gole atraiçoa-me e entra-me veloz no sangue toldando-me a vontade e o pensar. Mas mesmo assim fujo daquelas mãos que me procuram a pele desnuda no meio da confusão. Não as quero, não quero qualquer imediação. Quero-me a mim e á minha capacidade de ser só. Um amor só vale quando dois querem e eu não quero.
Por agora basta-me a desordem que se vive num bar algures perdido numa qualquer rua da cidade.