
Conduzo naquela estrada estreita que escorre e se perde qual rio por entre a serra densa de árvores.
É noite de luar. Uma lua farta que ilumina tudo como uma luz de presença a criar sombras tenebrosas.
Piso o acelerador até não poder mais, não sou mais eu mas um vazio de movimentos mecânicos.
Sinto o carro fugir, descontrolado, numa curva demasiado apertada e assim me deixo ir a deslisar estrada fora em contramão até quase cair no precipício fundo lá em baixo, ficando imóvel parada a olhá-lo de frente. Inspiro e expiro como se a dor fosse feita de ferro e acelero veloz uma vez mais. Perdi-me algures do meu corpo. Há partes das quais não se sabe abrir mão.
E quando nos sentimos afundar aos poucos lá fora ninguém sabe. É o som de perder o que nunca se encontrou.