"Isto sou eu no que tenho de pior: teimosa e obtusa para admitir os factos mais evidentes, sempre que tal não sirva o meu plano previamente traçado."
MRP in "O dia em que te esqueci"
"Isto sou eu no que tenho de pior: teimosa e obtusa para admitir os factos mais evidentes, sempre que tal não sirva o meu plano previamente traçado."
MRP in "O dia em que te esqueci"
"E Bjs. Odiava os Bjs. Qualquer dia, dissera já a Gracinha, dou-te mesmo Bjs em vez de beijos: beijo-te sem vogais. Ela acusara-o de ser bota-de-elástico. Não, não se é bota-de-elástico só porque se quer beijar e ser beijado por extenso."
João Aguiar in O Priorado do Cifrão
Há momentos em que ao passar os olhos pelos saltimbancos que fazemos da vida, batemos de frente com excertos que traduzem por palavras a barafunda que nos caracteriza.
Os sonhos são uma areia movediça perigosa sobre o qual caminhamos alegres e perfeitos ignorantes do perigo. Não interessa se não se sabe o que se quer, o essencial há-de sempre pertencer ao que não se quer. E a carência resulta da indefinição que damos a essa vontade.
Sei com toda a minha coerência pessoal que aquele é o devaneio morto ainda antes de nascer, mas no silêncio é dentro do peito que o sonho que mais se teme quer brotar, espreitando tímido, tentando sair da fantasia em que o trancamos.
Luta haverá sempre, sob o punho pesado dos sonhos reis e senhores prontos a sacrificar vísceras e coração, em prol de vitórias infrutíferas que nunca trarão a felicidade sem deixar um rasto de demasiadas baixas impossíveis de colmatar.
"Sim, o Demónio consegue assumir qualquer disfarce. Mas é no corpo de uma mulher tomada pela paixão que ele se sente em pleno. Nenhuma outra forma lhe assenta com tanta perfeição.
É nessa pele que o Demónio se sente ainda mais Demónio..."
Marla (aqui)
“Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais.
Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".
Fernando Pessoa